Ações em queda? Caiu, comprou? Devemos comprar ações caindo?

Devemos comprar ações em queda? Em meio à imprevisibilidade do mercado de ações, surge a pergunta: como distinguir entre ações que são excelentes oportunidades de compra quando os preços caem, em contraste com aquelas que devem ser vendidas quando se desvalorizam? A resposta para essa questão pode não ser tão simples, mas existem alguns indicadores financeiros que podem nos auxiliar nessa tarefa. Neste artigo, vamos explorar cinco sinais de alerta financeiros que podem nos guiar nessa jornada.

Cinco sinais de alerta financeiros para ações em queda:

1) GOODWILL – Um componente misterioso do balanço patrimonial

O Goodwill, ou fundo de comércio, representa o valor pago por uma empresa em uma aquisição que excede o valor justo de mercado do ativo adquirido. A existência de uma grande quantia de goodwill no balanço patrimonial de uma empresa pode ser um sinal de preocupação. Isso se torna especialmente problemático quando ocorre uma significativa baixa contábil do goodwill, pois indica que a administração da empresa pode ter desperdiçado uma grande quantidade de capital.

Vamos exemplificar isso com o caso da empresa Teledoc (ticker TDOC). No último ano, a empresa registrou uma baixa contábil de $14 bilhões em goodwill, enquanto seu valor de mercado total hoje é de apenas $4 bilhões. Este fato sugere que a compra da Livongo, pelo preço que foi acordado, acabou sendo um erro colossal.

2) Declínio na Margem Bruta – Um sinal de alerta para a saúde financeira

A margem bruta é calculada como a diferença entre as vendas e o custo dos bens vendidos. Para entender melhor, imagine que você tenha uma barraca de limonada: a margem bruta seria o dinheiro que você ganha vendendo a limonada menos o custo para produzi-la.

Quando observamos que a margem bruta de uma empresa está em declínio, pode significar duas coisas:

  • A competição está afetando o negócio, forçando a empresa a baixar os preços.
  • O produto já não desperta tanto interesse nos consumidores.

Em ambos os casos, é possível que estejamos diante de um problema que pode abalar a saúde financeira da empresa.

Um exemplo recente é a Beyond Meat (ticker BYND). A margem bruta dessa empresa caiu pela metade. Parte dessa redução tem a ver com a diversificação do mix de produtos, mas não é toda a história. Hoje, as alternativas à carne estão disponíveis em praticamente todos os lugares e, muitas vezes, a preços mais baixos.

3) Enfraquecimento do Balanço Patrimonial – Uma Indicação de Instabilidade Financeira

Um balanço patrimonial em declínio pode ser identificado por uma série de sinais, tais como:

  • Redução do dinheiro disponível
  • Incremento da dívida
  • Crescimento do inventário

Quando essas condições começam a se mostrar, a estabilidade financeira da empresa pode estar em risco.

Para ilustrar, considere a Amazon (ticker AMZN). No encerramento de 2020, a empresa possuía $84 bilhões em dinheiro, $23 bilhões em débitos e $20 bilhões em estoque. Atualmente, esses valores mudaram significativamente.

4) Compensação Excessiva Baseada em Ações – Um Desafio para os Acionistas

Muitas empresas optam por recompensar seus funcionários com ações. À primeira vista, isso parece inteligente – afinal, o dinheiro não deixa o caixa da empresa. Os acionistas sofrem diluição, mas se isso se traduzir em melhores resultados devido a funcionários mais motivados e produtivos, é uma troca justa. No entanto, o problema surge quando essa compensação se torna excessiva e a diluição se torna onerosa para os acionistas.

Além disso, um desafio adicional pode surgir se o preço da ação despencar. Nesse cenário, os funcionários podem preferir ser pagos em dinheiro em vez de ações, o que pode levar a um aumento nos custos operacionais da empresa.

Vamos ilustrar isso com o caso da Coinbase (ticker COIN). No último ano, a Compensação Baseada em Ações representou 49% da receita da empresa, um número que dobrou em 2022. Como resultado, o número de ações em circulação aumentou 26% desde que a empresa abriu o capital.

5) Lucro Líquido muito maior que o Fluxo de Caixa Livre – Um Sinal de Alerta para a Liquidez

É importante lembrar que o Lucro Líquido utiliza a contabilidade de competência, que suaviza as coisas ao longo do tempo. Já o Fluxo de Caixa Livre usa a contabilidade de caixa, que oferece uma visão mais realista dos fluxos de dinheiro.

Entretanto, se uma empresa apresenta um Lucro Líquido muito maior do que seu Fluxo de Caixa Livre, pode ser um indicativo de que uma crise de liquidez está a caminho, o que poderia tornar a empresa mais frágil. Quando os tempos ficam difíceis, você quer dinheiro em caixa – não promessas de pagamento que podem ou não ser honradas.

Um exemplo recente disso é a Netflix (ticker NFLX). Em 2019, a empresa registrou um Lucro Líquido de $1.9 bilhões, mas um Fluxo de Caixa Livre negativo de $3.1 bilhões, uma diferença de $5 bilhões! Embora as tendências atuais sejam mais sustentáveis, é um exemplo de como essas discrepâncias podem surgir.

Conclusão sobre as ações em queda

Em conclusão, entender como identificar esses ‘sinais de alerta’ financeiros é de suma importância para qualquer investidor. Não se trata apenas de saber quando comprar ou vender ações em queda, mas de entender a saúde financeira das empresas em que você está investindo. Portanto, a capacidade de identificar sinais de problemas potenciais, como boa vontade excessiva, margem bruta em declínio, deterioração do balanço patrimonial, compensação baseada em ações excessivas e diferenças significativas entre o lucro líquido e o fluxo de caixa livre, pode ajudá-lo a tomar decisões de investimento mais informadas e a gerenciar melhor seus riscos. Lembre-se de que a diligência e a análise cuidadosa sempre são essenciais quando se trata de investir no mercado de ações.

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